quinta-feira, maio 22, 2008

aqui sentado no escuro abandonado


Aqui sentado
no escuro abandonado
eu fujo de mim
e encontro-te a ti.

Quero ser quem és
remar contra a maré
subir ao céu
e olhar por quem adormeceu.

Vigilante de sonhos
guarda-costas da alma
assim para sempre
até não se ver viva alma.

Aqui sentado
no escuro abandonado
eu fujo de mim
e encontro-te a ti

Um dia não são dias
quando estou ao teu lado
a ver o céu azulado
e o coração se agita apaixonado

Entre canções, musicas de amor
eu chamo por ti,
gostava que aqui estivesses,
comigo, a sufocar de ardor.

terça-feira, maio 06, 2008


Perco as noites a pensar em ti
E sinto-me morrer mais devagar.
Ao invés definho, contigo
Pela mão em sonhos distantes.

Espero e desespero à tua espera.
Afastei-te para te poder esquecer.
Mas o amor passa pelo tempo e pela distância,
E faz a vida passar por ele.
E eu não sabia disso
E entreguei-te a minha vida.

Agora quero-a de volta.
Mas ela nunca mais vai ser a mesma.
Já não sei que vida desejo, que ar respiro.
Deixei-te entrar no meu restrito jardim,
Onde só entra quem eu quero.
Nele te confundiste com uma flor.
E eu destruí o meu jardim para expulsar esta flor.
Mas nunca mais a encontrei.

Criaste raízes algures, num qualquer recanto.
Hoje és a erva daninha de todo o meu jardim,
De todo o ser que já fui e não vou ser mais.

Ensinaste-me a palavra amor.
E consequentemente dor.
Por isso e por todas as noites sem dormir,
Um muito obrigado

Por que não saber amar é não viver

sexta-feira, maio 02, 2008

O tapeteiro aéreo


Era uma vez…

Um homem viúvo que vendia, porta-a-porta, tapetes voadores. Um homem de feições tristes, fustigado pela solidão que a morte da sua mulher lhe causou.
Um dia, em trabalho, dirigiu-se a uns andares onde nunca havia ido.
Chegado ao último apartamento, e já com duas vendas efectuadas naquele prédio, abriu-lhe a porta uma mulher incrivelmente bela. E então o homem sentiu o que julgava impossível voltar a atacá-lo… O seu coração parecia que estava a participar numa corrida de tão acelerado que batia. Uma corrida onde ele não se tinha inscrito…
Incapaz de falar, ficou especado a apreciar o que lhe parecia uma miragem. A senhora, achando estranho o vendedor não dizer nada, perguntou-lhe se este se sentia bem.
De repente, vindo do elevador surge um senhor de fato e gravata a chamar pela miragem do “tapeteiro aéreo” (nome com que o haviam apelidado).
“Diana” foi o que o fez como que sair de coma – consciente mas atordoado. Era o nome da sua falecida mulher…era o nome daquela mulher…
Já só conseguiu vislumbrar o homem e a mulher abraçados antes de o elevador o transportar para terra firme, pensava ele. Mas a lembrança de todo aquele curto momento não o largava. Tal e qual uma carraça, só que esta não lhe provocava febre mas sim um naufrágio, em que ele se afogava em whisky.
Depois da sua mais que tudo falecer, refugiou-se naquela pequena cidade, onde vivia com a memória do passado e a aliança que nunca tirava do dedo. Fazia uns biscastes e recentemente decidiu entrar no mercado da nova descoberta – os tapetes voadores.
As pessoas adquiriam-nos essencialmente para viajar, embora, já tenha sido provado, numa concentração de tapetes voadores, que até futebol dá para jogar em cima deles.
Por esta altura, a cidade andava em festa, viam-se fitas coloridas por todo o lado, e de noite, as luzes dos carrosséis, iluminavam a vista das crianças, enquanto que os adultos eram guiados pela música.
Foi no meio daquela agitação que o “tapeteiro aéreo” avistou Diana e o homem do outro dia, a quem ela continuava abraçada.
Ela também o viu e pediu-lhe que voltasse a ir a sua casa pois queria comprar-lhe um tapete voador.
Que fazer? Ir ou não ir? Quem será aquele homem que a acompanha? – Estas e tantas outras questões inundavam a cabeça do vendedor.
Um dia lá agarrou a coragem e foi a casa de Diana. Desta vez convinha conseguir dizer algo…
- Boa tarde. Aqui estou como me tinha pedido. – disse o vendedor um bocado atrapalhado.
- Olá! Faça o favor de entrar. – cumprimentou-o Diana com um sorriso no rosto.
- Quer então comprar um tapete voador…
- Sim quero. E…se não se importasse gostava que viesse experimentá-lo comigo.
- C-claro! Vamos então escolher um. Tenho aqui uns que acho que vai gostar…
Depois de algum tempo a conversarem e a decidirem o tapete voador que Diana ia comprar, partiram para um sítio sugerido por ela. Um sítio onde o silêncio era rei.
Pela primeira vez, em muitos anos, Joaquim, o “tapeteiro aéreo”, sentiu-se em paz; encontrava-se no local perfeito, com uma mulher de fazer inveja às deusas.
No meio da conversa perguntou-lhe, indirectamente, quem era o homem que no outro dia havia ido ao apartamento dela.
- É meu irmão. Ele vive um bocado longe daqui e veio-me visitar na altura da festa. E…a sua mulher como é que se chama? – questionou-o apontando para a aliança dele.
- Eu não sou casado, já fui…a minha mulher morreu. Eu uso a aliança porque nunca me consegui desligar do passado e acho que também como forma de penitência e de solidão.
Joaquim já há muito que não falava tão abertamente sobre o que lhe ia na alma e estar a fazê-lo com uma estranha deixou-o envergonhado.
- É melhor irmos embora… – disse ele.
- Vamos ficar mais um pouco, por favor, estou a adorar falar consigo.
- Trate-me por tu, se faz favor.
- Quando você também o fizer… – disse Diana a sorrir.
Que sorriso tão lindo, que calma infinita estava a invadir Joaquim.
Queria dizer-lhe o que ela lhe fazia, mas por outro lado ainda estava demasiado agarrado ao seu passado e à sua solidão. E, além disso, não conseguia encontrar palavras para se exprimir. Nem palavras nem coragem. Então, de repente, ela aproximou-se mais dele e beijou-o.
- Desculpe mas já não aguentava mais… Estar aqui consigo faz-me sentir maravilhosamente bem! – revelou Diana.
Estaria o pobre de alma “tapeteiro aéreo” preparado para aquilo? Estaria ele disposto a pôr definitivamente tudo para trás e começar de novo? Seria aquele homem capaz de dar a tão linda mulher tudo o que ela merecia? Às vezes os sentimentos não bastam…
- Eu quando te vi pela primeira vez parecia que ia desmaiar de tanta emoção…porém não sei se estou à tua altura. Eu não sou ninguém, sou só um simples homem dominado pela dor. – confessou Joaquim.
- E eu uma simples mulher que quer apagar essa dor, se tu a isso estiveres disposto.
Como ainda não chegava o silêncio daquele local, juntou-se-lhe o silêncio entre Joaquim e Diana. Finalmente interrompido pela sugestão ou quase “ordem” de se irem embora, porque estava a ficar tarde, por parte do vendedor.
Já a caminho do apartamento dela foram assaltados por dois homens. Apareceram por trás deles também num tapete voador. Um dos homens saltou para o tapete deles e agarrou-a sem Joaquim se aperceber. Quando este se deu conta do que estava a acontecer já a sua miragem estava a ser ameaçada com uma faca.
- Passa para cá dinheiro ou então vais ver o sangue desta pérola jorrar! – ameaçou o assaltante que empunhava a faca.
- Tenham calma, por favor, eu dou-vos o que quiserem – proferiu Joaquim ao mesmo tempo que botava a mão à carteira à procura de dinheiro – Tomem aqui está o dinheiro. Agora larguem-na, por favor.
- É toda tua! Adeus. Foi um prazer! – despediram-se os assaltantes em tom de gozo.
- Estás bem? – perguntou Joaquim – Tive tanto medo que te acontecesse alguma coisa de mal!
- Eu estou bem, obrigado. Muito obrigado.
Joaquim ergueu a mão para a roçar no rosto de Diana, e foi então que a aliança reluziu, causando à mulher um enorme desconforto.
- Quando estiveres disposto a deixar o passado e construir um futuro, avisa-me – disse ela ao mesmo tempo que se afastava da mão daquele homem.
- Deves pensar que é fácil! – afirmou ele irritado – Vamos mas é embora!
Não trocaram uma palavra o resto do percurso e nem sequer quando cada um foi para seu lado.
Dias, semanas, quem sabe meses, se passaram sem que Diana abandonasse o pensamento de Joaquim. Tivera medo de a perder no assalto, mas agora é que a estava a perder por completo. E ele sabia o que era perder alguém…
Por isso, decidiu procurar Diana. Foi ao seu apartamento onde, depois do espanto, ela o recebeu dizendo:
- Vens vender outro tapete?
Ao que ele respondeu:
- Não venho vender nada. Venho abrir-te as portas do meu coração.