quinta-feira, outubro 26, 2006

Um momento para respirar


Um momento para respirar…Por favor …só um momento! Para poder sorrir…por breves instantes um sorriso natural… E sentir…sentir a calma brisa que paira no ar, que me acaricia suavemente…como quem beija um aroma que se escasseia! Por favor… Só um momento! Peço apenas um momento! Aquele em que olho à minha volta e vejo pessoas que tão bem conheço, pessoas que me fazem bem! Que me dão certezas! Quero este breve e estúpido momento! Vivê-lo e só depois descrevê-lo!
Desejo ardente de puder aplicar a palavra divertimento! E não álcool! Não fazer dos bons momentos, os maus momentos, enjoativos e alucinatórios.
Parecer estar calma… apática da realidade mundana…conselhos para este e para aquele…querer abarcar com tudo e todos! Ser como um porto seguro! Mas depois…simplesmente…beber… Beber e sentir a tão suave brisa de uma maneira estúpida! Sentir atracção pelo toque de um carro que depressa passou ao meu lado e que afinal não provocou nada mais que vento! Um vento frio…de que não gosto mas parece fazer-me bem…
Um porto seguro que sofre tremores de terra sem ninguém dar conta! Ninguém estremece nem sai abalado com eles! Enquanto que eu acabo sempre por cair a cada estremecer! Tremores de terra que abalam… causam danos…e que quem sabe, destróiem…enfim potencialmente mortíferos. Mortíferos…fracos aqueles que precisam de um refugio!
Mas no fim nem sequer importa (o pior é o entretanto) …que estúpida importância aquela que demos!
O abismo envolve-nos…tudo parece desabar! Magoar quem sabe! Então, reparamos que tudo não passou de breves instantes de anestesia… Enquanto ela dura nada dói… E isto acontece tantas e tantas vezes! Que nem nos damos conta que é essencial ao nosso eu! Mesmo depois de nos ter feito desabar tantas e tantas vezes! Não conseguimos… não consigo tornar esta rotina em algo novo… Não consigo porque a sensação parece sempre fazer-me bem, parece sempre proteger-me, envolver-me e dar-me segurança! Não consigo porque estou farta…tão farta!






Ass: Ana Pedro e Cláudia Pinho



P.S: Ela é que escreveu quase tudo...é mesmo uma grande escritora ;)

segunda-feira, outubro 23, 2006

Um riso imprudente


O mundo é um lugar estranho...tão imenso e tão pequeno. Não vive mas sobrevive. Talvez nós o tenhamos feito deixar de viver. Ou talvez nós sejamos o próprio mundo. E então quem não está a viver somos nós.
Não encontramos resposta para o que será o propósito da vida. Andamos todos à deriva...uns mais, outros menos...mas cada um sem aqui viver verdadeiramente. Vivemos sim no mundo dos sonhos...e o real parece-nos ilusões que são.
E queremos ser felizes. Por mim podiam-no ser todos. Porque sei que não o seriam. Nunca ninguém está satisfeito. Ora isto, ora aquilo. Aquele pormenor, que transformamos em 'pormaior'. Tudo é um pretexto para ambicionar mais. Para nos armarmos em coitadinhos.
A meta não é a felicidade...é o além mar. Perseguir o horizonte. Remar fatigamente. Abarcar algum naufrágo encontrado durante a jornada. E ensinar-lhe o caminho mesmo não sabendo o caminho. Lançar sempre o dado. Um passo de cada vez...muitos de cada vez. Olhar para trás com ternura. Viver o presente como se não houvesse futuro. E olhar para o futuro com um sorriso. Não um riso mas um sorriso. Porque talvez encarar o futuro com riso seja imprudente....

quinta-feira, outubro 19, 2006

Peregrinação constante


Avanço uns metros e dou por mim num caminho que me desgasta. Não sei se o aprecio ou não, mas de certa maneira sinto-me bem comigo mesma. E olho à volta sem encontrar alguém com quem queira trocar de lugar. Mas outras vezes dói não ser outra pessoa.
Deparo-me com muitos porquês e outro tipo de questões, como se fossem sinais de trânsito. Se os ignoro corro o risco de bater. Se lhes presto demasiada atenção fico num impasse. Talvez eles só sejam importantes quando lhes aprendemos o significado, e depois uns meros emplastros ou amigos.
E apesar de amigos, raramente são importantes, são sim casuais.
Ando mais um pouco. Consigo sentir o abismo por perto, Contudo no pensamento acompanha-me o paraíso. Parece que não me mexi sequer. Tudo parece estar igual, embora algo tenha mudado. Que nem seres microscópios a que o olho nu é cego.
Por entre o imbróglio de estradas, perco-me no percurso já efectuado e até no que vou efectuando. Não adianta olhar em frente porque o nevoeiro tolda-me a visão. Mas ficar parada também não será o mais aconselhável. Por isso prossigo nesta viagem cujo final é o mesmo para toda a gente.
Só o entretanto diferencia; e mesmo assim acaba por deturpar-se nas páginas da vida. Subsistem os ensinamentos, mata-se a alma da pessoa.
E a isto chamam vida. Parecemos uns desgraçados em peregrinação constante. Não admira que uns cortem os pulsos e outros se enforquem. Terceiros, ainda, poupam trabalho a umas quantas pobres criaturas e pintam-lhes o retrato final.
Mas porquê se até respirar dá prazer?

quarta-feira, outubro 11, 2006

Um buraco negro


Parei uns segundos e ansiei poder tocar-te. Não sei onde estás nem se te conheço ou alguma vez irei conhecer. Mas queria agora mesmo um abraço teu. Repousar em ti e descansar um pouco deste turbilhão de pessoas, de sentimentos e medos. Por um momento largar a armadura e ficar desprotegida na segurança das tuas mãos.Hoje preciso de ti. Sinto-me frágil. Um pouco desamparada. Quem sabe esgotada. Não, esgotada não. Porque amanhã irei colar mais uns sorrisos na cara de alguém. Ouvir mais umas gargalhadas sonoras. Ver umas lágrimas que o riso causou. E rir eu também de um número elevado de atrocidades que acabei de dizer.Agora queria simplesmente uma pausa acolhedora. Dizer-te algo sem significado e adormecer. No dia a seguir acordar e já não te ter ao meu lado para não te olhar nos olhos e não sentir vergonha por me teres visto tão fraca.Mas talvez o que nós queremos não seja o que nós queremos. E o que nos dão não é o que precisamos. Tal como um enigma sem solução. Ou um átomo a mais.Uns minutos passaram e agora sorrio ironicamente por isto que escrevi. Não consigo definir a sensação que me assola o coração quando entro no buraco negro da escrita. Lá ou aqui, é como se eu estivesse num esconderijo meu para onde sou absorvida. Um esconderijo só meu em que ninguém me acha. Significados que vou encontrando e admirando, um recanto há muito conhecido e uma surpresa. Um dicionário sem a palavra dicionário e o mundo deixou de fazer sentido. Só num momento.

sexta-feira, outubro 06, 2006

«Every tear that falls flows into the ocean»


Encontro-me aqui sozinho no ‘nosso sítio’, pergunto-me onde estás e o que estarás a fazer…
É tudo tão difícil sem ti ao meu lado, sinto-me incompleto, triste, vazio, e com imensas saudades tuas!
Quando te vi pela primeira vez nem queria acreditar no que senti. Eu e tu éramos o Sol e a Lua em pleno eclipse. Compenetrados um no outro, a amarmo-nos intensamente por breves momentos que valem por muito tempo. Um segundo contigo é o meu mundo perfeito. Assim se pode explicar o nosso amor inexplicável.
Para além do sentimento tão forte que me atacou, com ele, veio, consequentemente, uma realidade que eu julgava a anos-luz de mim…estava apaixonado por uma pessoa do mesmo sexo que eu. Estava e estou! Não há amnésia possível nem para ti nem para os instantes que passámos juntos, aqui nesta relva verdejante, a ver o rio correr serenamente com as suas águas puras que nos transportavam para outro mundo. Um mundo sem preconceito onde poderíamos assumir o amor que nos une ou unia sem que fôssemos excluídos e olhados de lado.
Assalta-me o pensamento, o dia em que tu decidiste contar a uma amiga tua o nosso namoro. Amiga…pois, pois! Tu ficaste tão desiludido! Eu tentei consolar-te, mas eu próprio me sentia injustiçado, revoltado e desfeito por confirmar que existem seres humanos (?!) tão estúpidos! Será que não percebem que isto não tem nada a ver com os sexos das pessoas?! Trata-se simplesmente de amor, e isso é incontrolável!
Porém, o pior ainda haveria de vir…
Quando a tua mãe descobriu que nós namorávamos, foi uma situação irreal. Que injustiça!
Ela contou ao teu pai e, aí, de nada valeu a força do nosso amor. Ele juntou o útil ao agradável e aceitou uma oferta de emprego a centenas de quilómetros de distância, com o intuito, é claro, de nos separar. E teve sucesso. Só o meu amor por ti é que não acaba, aumenta cada vez mais e mais, dilacerando o meu coração por completo.
Agora, aqui, sentado, encostado a uma robusta árvore, olho para o movimento da cidade lá em baixo, e leio a carta que me mandaste.


27-04-2005
Olá meu querido João

Fecha os olhos e verás algo…parecem letras…estão a crescer…estão a pouco e pouco a tornar-se nítidas…até que consegues perceber o que está escrito: AMO-TE!
É esta palavra que o meu coração murmura sempre que por ti bate, ou seja, sempre que bate.
Não há vento que mova o que por ti sinto, nem água que o dissolva e afunde. E muito menos terra que o abafe. Só há fogo que o circunde; uma chama viva e vigorante que tanto me queima como me mantém quente e protegido.
És tu todas as constelações do meu céu. És tu, e só tu, quem eu amo verdadeiramente. Por isso digo que se o próprio ar respirasse, respiraria o meu amor por ti, pois mais puro e inesgotável não há! Mas se isto ainda me parece pouco, acrescento que te amo tanto que a palavra universo se sente inferiorizada.
Um grande beijo do teu

Filipe

P.S: Não me escrevas em resposta, por favor, antes que os meus pais apanhem a tua carta. Desculpa.


Chamo mas ninguém me ouve, peço para me sentir vivo, mas não me dão motivos, choro, e as minhas lágrimas correm em direcção ao rio. Talvez ele as leve para bem longe e, com elas, também esta tristeza infinita.