sexta-feira, outubro 06, 2006

«Every tear that falls flows into the ocean»


Encontro-me aqui sozinho no ‘nosso sítio’, pergunto-me onde estás e o que estarás a fazer…
É tudo tão difícil sem ti ao meu lado, sinto-me incompleto, triste, vazio, e com imensas saudades tuas!
Quando te vi pela primeira vez nem queria acreditar no que senti. Eu e tu éramos o Sol e a Lua em pleno eclipse. Compenetrados um no outro, a amarmo-nos intensamente por breves momentos que valem por muito tempo. Um segundo contigo é o meu mundo perfeito. Assim se pode explicar o nosso amor inexplicável.
Para além do sentimento tão forte que me atacou, com ele, veio, consequentemente, uma realidade que eu julgava a anos-luz de mim…estava apaixonado por uma pessoa do mesmo sexo que eu. Estava e estou! Não há amnésia possível nem para ti nem para os instantes que passámos juntos, aqui nesta relva verdejante, a ver o rio correr serenamente com as suas águas puras que nos transportavam para outro mundo. Um mundo sem preconceito onde poderíamos assumir o amor que nos une ou unia sem que fôssemos excluídos e olhados de lado.
Assalta-me o pensamento, o dia em que tu decidiste contar a uma amiga tua o nosso namoro. Amiga…pois, pois! Tu ficaste tão desiludido! Eu tentei consolar-te, mas eu próprio me sentia injustiçado, revoltado e desfeito por confirmar que existem seres humanos (?!) tão estúpidos! Será que não percebem que isto não tem nada a ver com os sexos das pessoas?! Trata-se simplesmente de amor, e isso é incontrolável!
Porém, o pior ainda haveria de vir…
Quando a tua mãe descobriu que nós namorávamos, foi uma situação irreal. Que injustiça!
Ela contou ao teu pai e, aí, de nada valeu a força do nosso amor. Ele juntou o útil ao agradável e aceitou uma oferta de emprego a centenas de quilómetros de distância, com o intuito, é claro, de nos separar. E teve sucesso. Só o meu amor por ti é que não acaba, aumenta cada vez mais e mais, dilacerando o meu coração por completo.
Agora, aqui, sentado, encostado a uma robusta árvore, olho para o movimento da cidade lá em baixo, e leio a carta que me mandaste.


27-04-2005
Olá meu querido João

Fecha os olhos e verás algo…parecem letras…estão a crescer…estão a pouco e pouco a tornar-se nítidas…até que consegues perceber o que está escrito: AMO-TE!
É esta palavra que o meu coração murmura sempre que por ti bate, ou seja, sempre que bate.
Não há vento que mova o que por ti sinto, nem água que o dissolva e afunde. E muito menos terra que o abafe. Só há fogo que o circunde; uma chama viva e vigorante que tanto me queima como me mantém quente e protegido.
És tu todas as constelações do meu céu. És tu, e só tu, quem eu amo verdadeiramente. Por isso digo que se o próprio ar respirasse, respiraria o meu amor por ti, pois mais puro e inesgotável não há! Mas se isto ainda me parece pouco, acrescento que te amo tanto que a palavra universo se sente inferiorizada.
Um grande beijo do teu

Filipe

P.S: Não me escrevas em resposta, por favor, antes que os meus pais apanhem a tua carta. Desculpa.


Chamo mas ninguém me ouve, peço para me sentir vivo, mas não me dão motivos, choro, e as minhas lágrimas correm em direcção ao rio. Talvez ele as leve para bem longe e, com elas, também esta tristeza infinita.


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